quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Campeggio di Re Artù e dei suoi cavalieri

Quando decidir ir à Itália, falei com o Manuel e ele disse que os escoteiros iriam acampar no final do ano em um lugar sensacional, chamado Alpe Paglio. Como eu estaria nas redondezas, fui convidada para participar o "campeggio" com a galera!
Então o post será dedicado à narração dos três dias animais de acampamento.

Terceiro dia - 26/12/2017 (terça-feira): Acordamos bem cedo e fomos ao Grupo Escoteiro do Manuel (Scout di Caravaggio, se não me engano).
A sede escoteira deles era bem legal, parecida com a nossa! Até gravei um vídeo para guardar a recordação desse lugar genial:



Infelizmente, a Giu estava passando mal, então não iria de chefe escoteira com a gente. A chefia seria: Manuel, Silvia, Simone , Nicola e... EU (4 chefes e ½ hehe).
Colocamos as mochilas no ônibus e saímos um pouco atrasados, já que o Manuel resolveu abrir um compartimento do ônibus que não podia e quase quebrou o busão. MAS DEU TUDO CERTO, o motorista consertou a arte Manuelesca e seguimos viagem.
No caminho até o Alpe Paglio, eu resolvi contar aos escoteiros que nunca tinha visto NEVE. Claro que a gringa brasileira acha que todas as palavras de italiano são diferentes, então contei pra todo mundo que nunca tinha visto “nebbia” – todos ficaram com cara de “wooow, ela nunca viu nebbia”.
Passados 15 minutos, o ônibus passou por um lugar cheio de neblina e todo mundo correu para mim falando “óóiaaa, você acabou de realizar seu sonho de ver nebbia!!!”. A tonta da Juliana achava que nebbia era neve, então sai contando pra todo mundo que nunca tinha visto NEBLINA.

AMIGUS, eu moro em CURITIBA, neblina é meu segundo nome!!!
E “neve” em italiano? É NEVE. DÃÃÃ. 

Depois de desfazer o mal entendido NEVE X NEBBIA, chegamos até o ponto máximo que o ônibus podia nos levar. Descemos do busão e colocamos as mochilas nas costas para começarmos a nossa “caminhadinha”.

A caminhadinha até o cume se tornou um trekking de quase 2 horas, mas foi sensacional! O lugar era maravilhoso, as paisagens de tirar o fôlego (que eu já nem tinha mais) e ficava cada vez mais lindo.

Enfim, chegamos ao topo do Alpe Paglio e nos dirigimos ao nosso alojamento Rifugio Disolin. Nem preciso dizer quão maravilhoso era o lugar, você vão ver nas fotos!

Após um lanche e a Juliana ficar babando na paisagem, a Chefia deu início à ambientação do acampamento e às atividades. O Campeggio Invernale (acampamento de inverno) tinha como fundo de cena le Soterie di Re Artù e dei suoi cavalieri (A história do Rei Arthur e seus cavaleiros), então as atividades tinham como tema de fundo a lenda dos cavaleiros da távola redonda, as histórias do Mago Merlim e de como Arthur encontrou a espada mística.
Na primeira rodada das atividades, eu auxiliei o Simone a aplicar um jogo KIM (jogo dos sentidos) – foi bem tranquilo, mas estava muuuuito frio.
E então aconteceu, realizei meu sonho (não o de ver neblina): COMEÇOU A NEVAR!
Já dá pra imaginar minha cara de alegria olhando os floquinhos caindo do céu.Foi maravilhoso! 

A alegria da criança de brincar na neve

Finalizadas as atividades, os pais de apoio prepararam a janta de todos e, devidamente alimentados, todos se reuniram para cantar algumas músicas italianas. Nesse ponto, notei que uma diferença quanto ao nosso escotismo: além de ter uma relação direta com a religião (no caso deles, com a igreja católica), o escotismo foi uma forma de resistência ao nazifascismo. Assim, muitas das músicas cantadas tinham conotação política e eles realmente ficavam muito emocionados cantando (e cantavam afinados!!! A Silvia até fez eles repetirem uma música porque não tinham alcançado o tom – Viu, Ana Luiza, você não pode ser escoteira italiana!). 
EEEILA Ô EILA SHEEILA
Levei um pouco do Brasil para eles também: cantei desafinadamente algumas músicas dos escoteiros brasileiros, levei paçoquinha e doce de leite e contei um pouco sobre como era o escotismo brasileiro. 
Após a escoteirada ir dormir, nós ficamos na cozinha com os pais de apoio contando histórias e jogando. Eles ensinaram um jogo super legal, chamado Tokio (também conhecido como Bluff a 21). A ideia do jogo é jogar os dados e fazer uma combinação de números maior do que a do amiguinho – caso sua combinação seja menor, você pode usar o artifício do “miguézão” e dizer que foi mais alto, torcendo para que ele não duvide de você. Se ele duvidar, você deve mostrar seus dados – caso você seja pego MENTINDOXX, sai do jogo; caso seja verdade o seu número, o seu amigo sai e você pontua.
Por sorte de principiante, arrasei na primeira rodada de Tokio. 

Finalizados os jogos e após o lanchinho noturno, todos foram dormir, já que amanhã teríamos mais uma rodada de atividades.

Quarto dia - 27/12/2018 (quarta-feira): Quando eu acho que o Alpe Paglio não poderia ficar mais bonito, acordo de manhã e descubro que nevou a noite inteira! Resultado: neve de quase 60 cm!
Os alpes eram surreais! Parecia que tinha um papel de parede na frente dos meus olhos!
Eita lugar lindo!


Aproveitamos o dia para brincarmos na neve, realizar meu sonho de construir um “pupazzo di neve”, fazer esquibunda (literalmente) e congelar! 


Juliana e Giuseppe, il pupazzo di neve!
Silvia no esquibunda

Claro que a brasileira que mora em um país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza não tinha roupa decente para neve, então ficou correndo feliz da vida com uma calça jeans encharcada. Na hora de tirar a calça até achei que minha perna iria junto... 
O dia foi bem tranquilo, fizemos alguns jogos, cantamos umas músicas, almoçamos, jantamos, lanchamos (novamente, a máxima da viagem: mangia che ti fa bene!) e comemos. 
Tive a oportunidade de ver como é a promessa escoteira italiana e achei o máximo!

Juro que não estava dormindo, só estava olhando para o chão!!!  
A promessa conduzida por um padre, afinal, o grupo é católico
A cerimônia da promessa escoteira
De noite, a chefia montou um jogo noturno para os escoteiros, que era um caça ao tesouro na neve! Eles tinham que sair (no frio de -10ºC) e procurar um tesouro escondido (não lembro se era uma espada ou uma cruz, mas sei que tinha um pergaminho). Após encontrarem um pergaminho com uma mensagem secreta, teriam que “levar a luz” até os cavaleiros, ou seja, teriam que acender uma vela e andar até uma tocha, enquanto a chefia jogava “palle di neve” (bolas de neve), na tentativa de apagar a tocha. 
Queria ter filmado a minha tentativa de explicar às crianças EM ITALIANO o que eles deviam fazer (admito que uma hora desisti e expliquei em inglês, porque eles são muito ninjas e entendiam tudo).
AH, eu também quase ferrei o jogo inteiro, porque, quando estávamos preparando o jogo, o Manu me deu as tochas e disse, em italiano, para eu encontrar a chefia na pista de ski. Claro que não entendi para onde devia ir e fui com as tochas para um lugar bizarro, parecendo uma garagem... Depois de uns 20 minutos, o Simone veio me resgatar, após concluírem que eu não tinha entendido bulhufas do que era pra fazer he he he
Desgraceiras italianas à parte, foi o melhor jogo noturno que já vi na vida! Acho que o fator neve contribuiu bastante com essa maravilha! 
Silvia e Manu preparando o jogo noturno
Após o jogo, todos voltaram ao abrigo e se prepararam para a segunda parte do jogo noturno: o teatro nas sombras. Como eu disse anteriormente, a Giu não pôde ir ao acampamento, porque acabou passando mal. Assim, adivinhem quem teve que assumir o papel dela no teatro de sombras, sendo a “strega Medessa” (bruxa Morgana)? Sí, io, Juliana!
Graças aos céus a Silvia tinha várias cópias da história, então eu pude acompanhar o teatro com o papel, porque o Nicola (na figura de mago Merlino com um sotaque napolitano) não facilitou muito a compreensão da história (nem os italianos entenderam tudo que ele estava falando! Hehehe)


Nem preciso dizer que foi o máximo a atividade! Mais um dia de missão cumprida!
Ao final da noite, jogamos um pouco de Tokio e fomos dormir.

Quinto dia - 28/12/2018 (quinta feira): : “Neeeeeve, Insegnaaami tu come cadeeere”. Era oficial, eu não ia embora daquele lugar surreal!
Nevou mais uns 30 cm naquela noite, então a paisagem que já era linda ficou MERAVIGLIOSA!


Começamos o dia com uma missa dos escoteiros (lembrando, o escotismo deles é vinculado à igreja católica).
Após a missa, os chefes separaram as meninas dos meninos para que fizessem o “jogo democrático” deles, ou seja, o jogo para que escolhessem a atividade do próximo semestre. Particularmente, achei a atividade deles sensacional! Eram três grupos de interesse apresentando e defendendo diferentes atividades (como subir uma montanha, visitar uma cidade diferente ou fazer um vídeo), mas ao final todos teriam de entrar em um consenso e escolher uma atividade. 
Jogo democrático dos escoteiros
Depois dessas atividades, uma das meninas apresentou uma especialidade de primeiros socorros e recebeu o distintivo. Como eu tinha levado uns distintivos dos escoteiros brasileiros, entreguei a ela o nosso distintivo de primeiros socorros! Ela ficou mega emocionada com a lembrança (SOU UM DOCE DE PESSOA, NÉ!?)
Com muito muito frio e tristes de ir embora, arrumamos as mochilas e demos adeus (ou arrivederci) ao Alpe Paglio, porque nosso Campeggio Invernale tinha chegado ao fim.
Nem estava frio...

Na descida de aproximadamente 1h30 até os ônibus, fiz um intensivo de política italiana com o Manuel, que me contou tudo sobre o governo italiano, os partidos políticos (legga, movimento cinque stelle, etc...), Berlusconi, Bolsi, preconceito na Itália, imigrantes, etc...
Expliquei para ele um pouco sobre a política brasileira (impressionante o quanto eles sabem da política brasileira! Sabiam do impeachment da Dilma, da prisão do Lula, etc...). Foi um momento bem legal! Obrigada pela aula, Manu!!!

A volta até Caravaggio foi super animada! Os escoteiros foram cantando várias músicas divertidas, como “Hanno ucciso l'uomo ragno, chi sia stato non si sa", la bella polenta e até o hino da Itália. Um dos escoteiros pediu que eu cantasse o hino do Brasil, e eu não sei por que cargas d’água me deu um branco e eu não tinha a menor ideia de como era o nosso hino. Coitados, devem ter achado que eu tinha um problema mental... 


Chegamos no Grupo Escoteiro ao final da tarde e, ao finalizarmos a atividade, agradeci imensamente a acolhida e dei algumas lembrancinhas dos escoteiros brasileiros (distintivos, arganeis, etc...). Muito obrigada pela oportunidade de acampar com vocês, Manu e Chefia! Vocês são show! Com certeza, foi um dos melhores acampamentos escoteiro da minha vida! 
Finalizada oficialmente a aventura escoteira, deixamos nossas mochilas na casa e fomos comemorar e contar as histórias do acampamento em um bar de Caravaggio! A Jude já estava melhor, então nos acompanhou até o bar e ficou rindo das histórias que contamos, como o Juliano congelando no acampamento, sobre meu desastre no papel de bruxa dela, etc.... 
Voltamos à casa do Manuel e preparei minha mala para passear em Milão (eu voltaria para Caravaggio para o ano novo). 

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